A soberba da atriz
S.B tinha 38 anos quando veio à terapia se tratar em 2005, estava depressivo, pessimista, com muita angústia e ansiedade; seus relacionamentos, eram sempre infelizes e rápidos, Até os 30 anos havia sido heterossexual e a partir daí mudou sua orientação passando a viver relacionamentos homossexuais, sempre com naturalidade, “apesar dos preconceitos” segundo ele. Mas o que realmente chamou a atenção foi que ao se referir aos seus relacionamentos disse que estava sem se relacionar com ninguém porque “…de quem gosta são inacessíveis e os outros não interessam”, denotando assim uma personalidade orgulhosa, o que comprovamos na vida da mulher que foi sua personagem vidas atrás, como conto a seguir.
“Vejo uma mulher andando num palco, sou eu, estou interpretando uma peça, tenho mais ou menos 27 anos, branca, com um vestido de época azul, meus cabelos são castanho claros. As pessoas me cortejam, agradam, me sinto alegre, feliz e orgulhosa, como se fosse da nobreza, muito prepotente, como se os outros estivessem ali para me servir, me acho superior aos demais”. A cena muda de lugar: “Estou num salão de festas rindo, conversando com várias pessoas ricas, da alta sociedade, pareço ser o centro das atenções, penso que as pessoas estão ali para me agradar. Quando a festa termina subo para meu quarto, mal humorada por não encontrar ninguém à minha altura, morava sozinha com meus empregados.
Deixamos o tempo passar para que S.B assistisse o resto daquela vida, e ele continuou: “Estava agora com 40 anos, na minha casa, aquela da festa, parecia estar de mal humor, lembrava que estava madura e sozinha, por nunca considerar ninguém à sua altura, bom o suficiente. Me sentia ultrajada por ser tão importante, superior e não ter encontrado ninguém, isso me dava revolta e enchia de mágoas, culpava a vida por ter me negado alguém de valor, me revoltava contra Deus e a vida”. Falou num tom magoado.
Nessa época cansada de encontrar alguém perfeito decidiu casar com alguém de sua posição, só por comodidade. Mas as coisas não melhoraram como ela conta a seguir.
“Me senti como se fosse representar o tempo todo, isso me amargurava, já sabia que todos sabiam que eu não era feliz, tinha crises de raiva quando me sentia diminuída por alguém, culpava os outros e me descontrolava, mas mesmo assim me sentia superior e melhor que os outros”. A vida dela foi assim até os 50 anos, quando descobriu que estava com uma doença incurável e iria morrer, sem forças para reagir decidiu voltar para a casa de fazenda de onde tinha vindo. Sentia-se amargurada com tudo o que estava lhe acontecendo, não se conformava por não ter tido a vida deslumbrante que achava que merecia. Morreu depois de um ano, com os familiares, não chegou a ter filhos.
Estas foram as conclusões de seu espírito depois da morte: “De início fiquei revoltada e inconformada, depois percebi que tive a oportunidade de ser feliz e a perdi por ser arrogante e prepotente, dando valor apenas à futilidades e falsas relações sociais, sem me preocupar com valores mais nobres, só dei valor a coisas sem importância. Aprendi então que tinha que dar valor a coisas mais nobres como a vida, o trabalho, a dedicação. Não dei valor nenhum para ter nada e nunca me preocupei nem ajudei ninguém. Vou ter que passar por vidas de provação, austeridade e escassez, para aprender a dar valor a vida e as coisas mais nobres como a caridade e a honestidade”.
Depois disso as melhoras de S.B foram rápidas e ele entendeu os males de seu orgulho e arrogância na sua vida, e como poderia terminar sua vida, teve alta depois de um ano.