Queimado
Marcelo, 35 anos, chegou à terapia em 2005 com problemas familiares. Relacionava-se mal com a esposa, o pai e principalmente o enteado, de quem dizia gostar muito, mas que o contrariava demais “endurecendo seu coração”. Dono de uma personalidade crítica e pessimista se dizia, e realmente parecia, ser submisso às vontades alheias, sentindo-se muito infeliz com o resultado disso na sua vida.Queira melhorar, se sentir menos crítico e culpado por não sentir e fazer o que achava serem os comportamentos corretos como pai e marido, mas infelizmente não levou seu projeto em frente abandonando a terapia logo após a primeira regressão, que vamos conhecer a seguir e tirar, cada um, suas conclusões.
“Vivia com minha família nuca casa pobre, mas feliz, com meus pais e irmãos; era um menino claro de cabelos lisos e olhos escuros. O tempo foi passando e vi minha irmã grávida e depois tendo um menino pelo qual senti muito apego e amor, Com 27 anos peguei um trem e fui pra S.Paulo atrás de emprego, mas me sentia triste e preocupado com meus pais que iam ficar, sinto que sou necessário a eles, mas acho que de lá vou poder ajudar melhor.
Vou trabalhar como pedreiro até os 42 anos, nessa idade acontece uma tragédia, caio de um prédio e depois que me recobrei descobri que não sentia mais meu corpo, fiquei tetraplégico. A sensação era terrível: impotência, incapacidade, tristeza…não tinha mais nada a fazer; as pessoas vinham me ver, mas não podia me mexer, só me lamentava. Nessa época tinha mulher e dois filhos morando numa casa simples, sentia vontade de morrer, pensava em me matar, mas como? Até que tive uma ideia: na cabeceira da minha cama ficava acesa uma vela, pensei em derruba-la na cama e me matar queimado. Fui em frente com meu plano, estiquei o pescoço o que deu e puxei o lençol sobre o qual a vela se mantinha e ela caiu na cama que começou a queimar, assim como meu corpo, começo a gritar!” — Nesse momento a voz de Marcelo sobe de tom e ele parece se desesperar, para em seguida se acalmar a continuar a história quando lhe pedi.
“Fico todo queimado, mas não morro, fico mais infeliz ainda, pois fico cego, a tristeza é imensa”— Lamenta — Depois disso fui jogado num asilo, para ser cuidado só pelas funcionárias, podia falar, mas sentia vergonha das pessoas cuidarem de mim e chorava de tristeza, amargurado. Nunca mais vi meus pais, me sentia arrependido de ter saído de perto deles, não teria acontecido nada daquilo; minha esposa ia me visitar de vez em quando, muito entristecida.
Um dia, após algum tempo, minha irmã veio me visitar, estava alegre, pegou na minha mão e disse, entre lágrimas de alegria e rindo , que iria cuidar de mim a partir daquele dia. Me levou para sua casa, junto daquele sobrinho que gostava, e também queria me ajudar, senti muita felicidade. Vivi bem, até minha morte, aos 85 anos, estava com meu sobrinho, na casa dele, perto da morte, minha irmã já havia morrido de forma natural; ele chora e segura na minha mão e diz entre lágrimas que me ama. Morro naturalmente.
Vejo aquele corpo de fora, acabado, deformado, enrugado com o rosto desfigurado, sem olhos e com os membros retraídos me surpreendo ao me ver novamente com meu corpo jovem, com os movimentos recuperados, senti uma felicidade muito grande. Revi minha vida e pensei que apesar da pobreza minha família era feliz. Decidi nascer de novo, receber o carinho de mãe, a atenção e felicidade da família e começar a ser feliz novamente”.
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