De que adianta?
Depois de sete anos de terapia finalmente víamos resultado no tratamento de S.R. paciente que se queixava de uma melancolia persistente. A terapia de vidas passadas, que normalmente é uma terapia breve, com ela havia demorado mais do que deveria, em função de múltiplos fatores, como um tratamento para câncer, mas principalmente de suas próprias resistências. Agora, por fim, ela se mostrava preparada para aprender suas últimas lições, e tomar um novo rumo em sua vida. Aqui vai o relato de sua última regressão, e das últimas lições que ela aprendeu. Pouco depois dessa sessão ela teve alta e nunca mais voltou.
“Um bebê chorando…uma menina…clarinha, nascendo…é num hospital com camas de ferro. A mãe do bebê está deitada, é clara de cabelos castanhos, está feliz, rindo, esperando para ver a criança, está com o marido e a sogra. Uma enfermeira a traz, acho que sou essa mulher, sinto inveja da mãe, queria ter um bebê também, mas não podia…tinha engravidado uma vez, mas meu marido me batia e findei perdendo a criança. Tempos depois nos deixamos, estava chegando nos cinquenta anos e não tive mais filhos, nem tinha ninguém. Estava ali para roubar aquele bebê, eu não era uma enfermeira de verdade…já tinha planejado tudo; depois que a mãe viu o bebê eu fugi com ele dali.
Fui viver no campo, bem longe, perto da minha família, com ‘minha filha’ , cuidava dos afazeres da casa, nunca ninguém me achou. Às vezes me sentia triste que pelo que fiz, às vezes ficava alegre… vivia no conflito, mas achava que merecia ter alguém, às vezes queria contar, mas não o fazia. Nunca mais soube os pais dela.
Com uns sessenta anos adoeci de câncer, sentia muita dor e não podia mais trabalhar, minha filha tinha 14 para 15 anos. Comecei a ficar muito triste e resolvi contar para ela o que havia feito, e pra minha família também; ela reagiu com muita raiva, quis ir embora atrás da mãe, sofri, mas fiquei aliviada, minha família me taxou de má, como um monstro, já estava para morrer… tinha que fazer isso. Pouco tempo depois morri, cheia de dor e tristeza, sozinha em minha cama. Meu espírito ao sair daquela vida se sentiu aliviado por tudo ter acabado, eu me torturava e punia o tempo todo, não me permitia ser feliz, a morte trouxe um alívio foi muito grande. Vi logo após que minha filha terminou por encontrar sua mãe verdadeira, com a ajuda de minha família, e acabou por me perdoar, mesmo depois de toda a raiva e ódio que sentiu. Notou que eu havia sido uma boa mãe.
Não me arrependi de nada, mesmo sabendo que não fiz o certo, mas aprendi que a gente é capaz de tudo por causa da dor. Sofri muito quando perdi meu filho, perdi a condição de ser mãe de tanto que apanhei, achei que só poderia ser feliz se tivesse outro filho, mas a tristeza pelo que fiz não saiu de mim, nem mesmo depois da morte; nunca mais vou fazer isso novamente; não consegui ser completamente feliz porque tirei a felicidade de outra pessoa”.
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