Perdoai-os Pai
Tenho visto no dia a dia de meus pacientes todo tipo de sofrimento relacionado à um tipo especial de situação: a falta do perdão’; desde gente que literalmente morreu de raiva, até aqueles que desgraçaram a vida remoendo ressentimentos e mágoas antigas, por semanas, anos ou décadas a fio, como se a ferida no coração acabasse de ser infringida. Guardar mágoas parece ser um mal comum a toda a humanidade e, independente do que pregue qualquer escola da psicologia moderna, se não tivermos a capacidade de perdoar iremos nos tornar doentes da alma. Perdoar é um ato extremamente libertador, deve ser por isso que às portas da morte, Jesus proferiu a tocante sentença, incompreensível para seus contemporâneos: “Perdoai-os Pai, pois eles não sabem o que fazem”, contrariando toda a lei e os costumes da época, que pregavam o olho por olho, dente por dente.
Cobrar, julgar, criticar são todas formas de nos colocar na condição de juízes das pessoas e “palmatória do mundo” e fazem com que, em nosso orgulho, esqueçamos de que estamos sendo julgados pelos outros o tempo inteiro e ainda mais pelo pai maior. Errando vida após vida, engatinhando ainda no caminho da perfeição, queremos admoestar quem se encontra um ou dois passos atrás de nós, pelo mesmo caminho que acabamos de trilhar, tudo por prepotência e orgulho, chagas de nossa alma que nos levam a ter o perdão como a mais difícil lição.
O mestre Jesus em suas lições foi sempre pródigo em mostrar a importância do perdão em nossas vidas, mas apesar disso já ter mais de 2000 anos continua difícil como o foi em sua época. Em nosso imo ainda vige a lei do “dente por dente”, e a única coisa em ainda somos pródigos é em cobrar. De memória assaz eficiente para lembrar de cada mágoa nos causada, a mesma se debilita ao extremo na hora de fazer o caminho inverso para nos lembrar de quantos houvemos feito sofrer em nossas vidas. Provocado a ser um messias guerreiro e rei de seu povo, Jesus se colocou na condição de servo humílimo. Inquirido, humilhado e açoitado nada revidou, perdoando cada golpe do açoite com lágrimas de compreensão. Deixou assim uma lição imorredoura, que podemos usar e aprender para nos libertar da tirania de nosso orgulho.
Se ele fez isso com quem o pregou na cruz, porque é tão difícil para nós perdoar pequenos deslizes, ou mesmo os grandes, frutos de ignorância e falta de fé? Tomemos essas lições para nós mesmos e nos libertemos também; deixando no passado mágoas e rancores antigos que, na grande maioria, até perderam o sentido de estar ainda em nossos corações, a não ser pelo prazer de remoer cada pequena dor como se não tivéssemos coisa melhor para fazer. Tempo perdido, que poderia ser bem mais usado para vivermos uma vida completa e feliz.
Para podermos exigir consideração e respeito pelos nossos direitos de pessoa humana teríamos, antes de mais nada, agir da mesma forma; coisa que habitualmente não fazemos. O perdão verdadeiro pede esquecimento pelas faltas cometidas e a troca dos laços de ódio pelos de amor, querendo o bem, incondicionalmente, mesmo aqueles que nos ofenderam. Como bem o diz a prece ensinada pelo grande mestre: “Perdoai nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores”.
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