Negar a si mesmo
O personalismo, o apego ao Ego, a prevalência do Self sobre o espírito, todas são formas de prisão de nossa consciência a valores equivocados, e em última instância a nós mesmos. Em grande parte fruto de nossos medos e temores mais inconscientes, essas coisas podem nos impedir de interagir com o todo nos deixando à parte no Universo, numa posição muitas vezes egoísta, presos ao material e mundano, sem conseguirmos ver além das aparências. Achamos que ser feliz é usufruir do mundo ao máximo e tirar dele o que mais nos der prazer, confundimos prazer com felicidade, nos iludimos pensando que ser feliz é viver em êxtase, como se isso fosse possível. Vivemos de amores egoístas e sofremos por apego à futilidades e pessoas que não nos acrescentam nada. Pensamos que se formos reconhecidos por sermos superiores em algo automaticamente seremos amados e amamos o reconhecimento. Por vaidade somos capazes dos maiores sacrifícios, mas somos incapazes de sacrificar um pouco de nosso tempo e vida estendendo a mão a um irmão próximo que necessita do que para nós é muitas vezes apenas supérfluo.
É sempre muito saudável não exagerarmos no que são necessidades naturais, agindo assim evitamos cair na armadilha de transformar isso em carências ilusórias que nos tornem ansiosos e insatisfeitos, ou nos façam escravos de uma angústia enorme por não conseguirmos nunca nos sentir completos. Estas necessidades estão diretamente ligadas às crenças que temos no que pode nos fazer sentir completos e felizes, só que muitas vezes elas estão erradas; principalmente se partirem do princípio de que iremos conseguir algo sem esforço ou sacrifício.
Se desejarmos abrir caminho para que nosso espírito encontre a paz, teremos que abrir mão ou abdicar de nós mesmos, ou pelos menos daquele equívoco. Isso pode parecer difícil, mas não quer dizer abrir mão de nossa individualidade ou negar nossos aspectos negativos, pois assim nos tornaríamos hipócritas; que dizer apenas abdicar de nosso egoísmo e as ilusões, abandonar o que não nos realize verdadeiramente, principalmente as coisas materiais e mundanas; notando as pessoas à nossa volta e exercitando a caridade, a benevolência e o altruísmo
Deve ser por isto que Jesus Cristo quando perguntado sobre como deveriam agir aqueles que desejassem segui-lo disse: “… Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8: 34). Ele, em sua grande sabedoria, já sabia que sem que o ser humano consiga de desapegar de seu Ego, que está na raiz do ego-ismo, não há como se obter a saúde real, de mente e espírito. Estes não conseguem ficar bem a não ser em estado de equilíbrio, onde nossas necessidades humanas não nos façam esquecer do que nosso espírito veio aprender nesta vida, só assim vamos encontrar a paz. Não aquela paz da imobilidade, nem a inércia dos tolos, mas a paz dinâmica daqueles que sabem o que querem e assumem a “cruz” de seus atos e suas responsabilidades na vida, para consigo mesmo e com os outros, conforme ensinou o grande mestre milênios atrás
Se lembrarmos da vida do mestre galileu veremos que isso foi sempre o que ele fez, mesmo ao custo de sua vida; nos deu um grande exemplo para que pudéssemos hoje fazer um pequeno esforço para sermos mais desapegados e menos ego-istas.
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