Pulsões X Paixões
Postado por Ney Jefferson em Romances, família e relacionamentos sábado, 16 janeiro 2010 12:08 Nenhum comentário
O conceito psicanalítico de pulsões é bastante conhecido; quando Freud começou a usa-lo ele o associou aos instintos, principalmente o sexual, sendo a libido uma manifestação da "tensão sexual somática" humana.
Em alemão o termo trieb, usado normalmente em português como pulsão, tem o sentido de "força impelente" ou "força que coloca em movimento" e é associado a outros significados como: desejo, carência, necessidade; em todos esses podemos notar a semelhança de propriedades ao que comumente chamamos de paixões, estas propriedades perfeitamente conhecidas por quem já as sentiu, aparecem com frequência nos escritos dos poetas e dos religiosos, com conotações românticas e fantasiosas, mas nem por isso menos realistas. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? que influência e inter-relações essas duas entidades podem ter entre si e como podem nos afetar.
Ambas as coisas nos remetem a uma força praticamente indomável, instintiva, que almeja satisfação imediata e que ao mesmo tempo nos fornecem uma energia psíquica e emocional ímpar que nos torna capaz de feitos que em outro estado não seríamos capazes, e aí vem outra semelhança aos conceitos de pulsão, que é o significado em alemão de necessidade que, como nas paixões, só podem ser estancadas pela satisfação dos estímulos que as provocaram.
Um aforismo antigo diz que essa energia potente, mal controlada, pode ser como um cavalo desgovernado que leve o cavaleiro para o primeiro abismo no caminho, querendo dizer que, assim como as paixões bem direcionadas podem ser extremamente produtivas também podem nos botar a perder tudo o que mais prezamos; então face a essas semelhanças achei que o tema merecia uma melhor exploração.
Não é nesse despretensioso post que iremos achar nenhuma resposta definitiva a essas dúvidas milenares, mas podemos iniciar aqui uma exploração que poderá nos ensinar lições que aprendemos com o uso da terapia de vidas passadas e que podem ser enriquecedoras a quem se propor a entender melhor o que está na base desses dois conceitos tão estudados e ao mesmo tempo tão desconhecidos.
Segundo Freud descobriu do nosso inconsciente brotam emoções e desejos que não conseguimos entender nem explicar, alguns nós recalcamos, outros nos influenciam vida afora para além de nossa mais completa ignorância. Mas, mesmo os especialistas e todas as teorias que existem hoje na área psicológica são insuficientes para satisfazer nossas anseios pelo entendimento de sentimentos tão poderosos como o amor e as paixões e, por mais que nossa razão se esforce, não consegue sufocar ou satisfazer essas duas potências da nossa psiquê e da nossa alma.
Nessa linha tênue entre corpo e alma situam-se as nossas pulsões e paixões; indistintas, potencialmente destrutivas, ardorosamente emancipadoras, impulsionadoras de nossas ambições e desejos, moralmente aceitáveis ou não, resumindo, possuidoras de uma força descomunal,muitas vezes irresistível, que nos move e faz confundir razão e instintos, que com muita dificuldade administramos e fazemos funcionar socialmente. O problema é que, às vezes é difícil encontrar o equilíbrio necessário para atingirmos a satisfação plena e a paz necessária para nos sentirmos felizes.
Por isso Freud colocou as pulsões como limítrofes entre o corpo e a psiquê. Das necessidades do corpo contra as necessidades do espírito, daquilo que em nós é mais animal e do que mais nos aproxima dos anjos, onde estará a resposta? será que nossa evolução atual permitirá que atinjamos um estado onde estejamos em paz com nossas aspirações e desejos? Talvez tenham sido essas questões que desconcertaram e inquietaram o homem desde que ele passou a questionar a própria existência que motivaram os grandes estudiosos da mente a entender como as paixões nos acometem e nos impelem; as diferenças deles com os antigos românticos e poetas, além da linguagem logicamente, são as colocações técnicas e científicas que buscam entender os intrincados caminhos da emoção e da mente para tentar aliviar o sofrimento causado à alma por paixões das mais complexas e irresolvíveis.
A satisfação dessas pulsões/paixões pode inclusive nos dar a ilusão de felicidade, e fazer com que mobilizemos nossas forças mais íntimas para chegar a esse objetivo; como no homem a linha que separa razão e instinto muitas vezes é tênue e indistinta é natural que muitos caiam nessa cilada e se percam nos caminhos da satisfação de suas necessidades mais animalizadas, como se isso fosse suficiente para nos preencher de tudo o que realmente nos faz falta, como por exemplo, o afeto verdadeiro, o carinho fraterno, o amor que consola, a amizade desinteressada e etc. Vamos em busca somente do sexo desenfreado, do poder, da glutonaria, da luxúria e da vaidade; até nos apercebermos que isso não nos preenche de absolutamente nada, pois nossas necessidades verdadeiras são nobres por natureza por que fomos aquinhoados com uma parte da criação que é a mais bela que é ter uma alma, uma psiquê.

Deixe um Comentário